a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

12/10/2015

Tonight she comes


Há muito tempo que é nesta época que mais se fundem lâmpadas mas nisso não se fala. O processo costuma manter-se até depois do natal, mesmo que ande toda a gente em modo jingle bells. A fileira comprida de focos luminosos perfeitamente design no teto do meu corredor já tem duas baixas e ainda outubro não chegou ao meio, ora isto habitualmente contagia as vizinhas da fileira se eu não urgir escadote acima para a troca. No fim de semana dei dois saltos à rua, e a rua deu-me um outono tão bom. Composto à chuva pela tarde, o que eu adoro o outono não sei medir mas contar, contei. Duas lâmpadas em semáforos e três em automóveis que circulavam no mesmo piso molhado que eu, e em poucos metros foi o que se arranjou para poder sustentar este meu primeiro poste.

De modo que é nesta altura que mais me vejo o carro ao espelho, na minha vida há por acaso espelhos muito bons para ver carros ao espelho (atividade pós-laboral): enquanto aciono as luminárias da viatura, com a mão, com o pé, à frente, atrás, à esquerda, à direita, autoteste que nem sempre acaba passado, mas que de honesto tem tudo, o meu teste, é uma verdade, podemos estar descansados quanto a isso não tem problema nenhum.

Com esta conversa assaz eletromecânica, nem parece que tenho um novo amor e tenho. Com ele viajo sem carro pelo ambiente do janelas dez da microsuave e depois dentro de um escritório dois mil e dezasseis há toda uma possibilidade de coisas que podemos fazer, ainda nos estamos a descobrir, é tão belo isto, não o largo nem ele a mim, a Cristina disse-me hoje ao almoço que tenho os olhos mortiços, a parva, desculpei-me com ai é do tempo, mas claro que não é, continuando, íamos aqui, o equipamento macio dentro do equipamento duro*, o meu amor novo, e por causa dele escrevo este primeiro poste em português moderno, que do antigo ele não gosta, põe-se vermelho por baixo, de maneira que comecei pelo teto, as lâmpadas foi tipo motor de arranque ao tema, para não cair em seco (chovia), e acabei a traduzir tudo, limpámos os estrangeirismos, o meu amor novo e eu, ai tenho os olhos mortiços, tenho?... sabe lá ela do que fala, a Cristina.

(e agora, precisamente após o meu primeiro poste em português moderno quase todo isento de estrangeirismos e imediatamente antes de ir buscar o escadote para subir ao teto, apeteceu-me ouvi-los, aos carros, ahhh...)

* e não o contrário

8 comentários:

  1. Os espelhos dos carros podem ser muito reveladores. Nas filas então... Há sempre histórias para deslindar no carro de trás. :)
    Ah e concordo. Essa tal de Cristina só pode ser parva.

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    1. Que engraçado... eu nunca deslindo as histórias do carro de trás, só olho para o da frente... cá por coisas. :-)

      (Luísa, a Cristina tem razão....)

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  2. Susana, não sei se o meu comentário é um tiro ao lado, mas o que me apraz dizer é que quando temos um amor, seja ele recente ou daqueles que já nos seguram nas horas menos boas da vida, esse amor torna-nos diferentes, a atitude, as palavras, a postura, tudo parece ser mais suave (não sei se suave será o termo certo). Transparece até na forma como escrevemos. Uma pessoa zangada com a vida, sem um amor de mão dada, passa gritos nas palavras. Ou mesmo que não passe gritos, passa tristeza. A paixão, o amor correspondido, parece que faz brilhar tudo, até o mais pequeno artigo definido.

    Um tiro ao lado... bem sei :)

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    1. Maria, o seu comentário é certíssimo. Tudo nele é verdadeiro e portanto nunca será um tiro ao lado de nada (a meu ver, claro).
      :-)

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  3. Ai, esse teto sem "c" revela um amor com corretor automático, também sem "c". Um poste é um poste, pronto! Seja elétrico, outra vez sem "c", ou escarrapachado num belo blog como este.

    Beijos, Susana, e uma boa noite. :)

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    1. Teto sem "c" fica mesmo mal, eu sei. Eu também acho feio, mas como é este meu novo amor que me incentiva, olha.... quem feio ama bonito lhe parece. :-)
      Obrigada, querida Maria, beijos de volta.

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  4. Também tenho lâmpadas apagadas por opção delas. Julgo que nesta altura se fundem mais devido à maior utilização.
    Gostei de ouvir os carros.
    Apesar de te passares para o português moderno, abro uma excepção para continuar a ler-te. É que sou mesmo alérgica à coisa e gozo com o Benfica que borda as minhas palavras. Só uso o dito em situações em que sou mesmo obrigada, ou seja, na documentação de serviço que vai para o exterior. Nem na interna utilizo.
    Beijo, Susana.

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    1. Ai....Isabel... ficas mesmo, ficas?! (glup)

      (é que isto de fazer de uma maneira num lado e fazer de outra no outro é um bocado demais para mim...)

      Beijo, Isabel.

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