a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/11/2014

Castanhas sem gengibre

Dei a reunião por concluída às quatro e meia da tarde e regressei com o computador ao colo para a secretária, em cima da qual está um pacotinho com quatro castanhas assadas dentro e lembro-me de repente que hoje é dia de São Martinho.

Primeiro devolvo a alimentação ao pêcê que estava exaurido de todo, coordena-se isto bem com a duração da reunião e é no que dá, e depois trato das castanhas. Quatro dá para pensar muito.

Acho que a minha casa está a ficar farta de mim, com certeza isso é possível. Eu própria, que sou eu, também de vez em quando fico.

O batente da porta da casa de banho do fundo do corredor descolou-se e está de costas voltadas, uns nervos. Não lhe mexi.

O ferro de engomar, que passa demasiado tempo na minha mão, tinha uma pecinha de plástico muito fininha que nas instruções dizia ser muito importante e que se partiu. Se era importante não devia ser fininha, isto é fácil, mas já cheguei tarde com a minha opinião, portanto o ferro deixou de o ser, nem para combater a anemia serve, lixo. De caminho levei uma cadeira velha, ai que bem me soube, e a alguém também, que já a foi buscar. Geralmente gosto mais de deitar coisas fora do que de comprar novas.

Que boas estão as castanhas, já só me falta uma e ainda não pensei tudo.

No outro dia não percebi nada do que o taxista de Delft me disse no caminho da estação de comboios para o meu destino, que ficava a dois quilómetros e seiscentos metros e demorava nove minutos, foi o que me valeu, e vamos lá, esta parte percebi. Mas a seguir não, bem me estiquei e acenei com a cabeça, nada. Será de mim? A ver se era de mim, pus-me eu a falar o resto do caminho e o que eu disse percebi tudo. Não era de mim.

Calada agora, que não está aqui ninguém para me ouvir, deito fora as cascas das quatro castanhas e decido ir para casa.

Mas primeiro passo no centro comercial para comprar um ferro novo. À porta, está uma comprida fila de gente, mesmo junto à senhora do carrinho das castanhas. Bolas! (sorrio cá comigo a pensar “não podem ver nada!”)

E então lá me lembrei, outra vez de repente, que hoje é dia de São Martinho.

Estava difícil.

(mas não tanto como arranjar títulos para posts: o gengibre quis vir, coitadinho, e eu deixei)

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