a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

03/06/2014

Vestidos de noivas

Hoje à tarde fui a Moscavide.

Descia uma das ruas perpendiculares com a janela do carro aberta, a minha filha sentada ao meu lado, o sol a deitar-se em toda a parte e cheirou-me a elefantes.

- Cheira a elefantes.

- Elefantes, mãe?! Como sabes a que cheiram os elefantes?

Olhou para mim sorridente, sobrancelhas fora da posição de repouso, expressão interrogativa, olhos pretos brilhantes, é tão bonita a minha filha.

- És tão bonita, filha.

No fim da rua que descemos e que é perpendicular à avenida a que o bairro deu nome, não vem ninguém a quem dar prioridade mas paro o carro, saco da máquina fotográfica de dentro da mala (sim, eu tiro fotografias com uma máquina fotográfica muito boa, a especialidade dela é fotografar, daí o nome), olha lá para mim outra vez, meu amor.

- Mãe, vais tirar-me uma fotografia com esta loja por trás?

- Não, vou tirar três, espera aí. E essa loja é boa, tem vestidos de noivas.

Ela esperou. Sorriu, encolheu os ombros, ai ai, mãe, que maluca!

Moscavide é um bairro feio. Tem prédios feios e ruas feias. E hoje cheirava a elefantes. Eu não devia gostar de Moscavide. Mas gosto.

É com certeza de ser maluca.


Sem comentários:

Enviar um comentário