a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

27/09/2013

Sal marinho

Depois do trabalho, houve reunião de pais na escola da Mafalda. Chego atrasada porque a chuva resolveu aparecer por cá e como é seu costume, fez multiplicar automóveis. Estacionei onde calhou e calhou ser longe.

Saio da reunião antes do fim, boa tarde, desculpe, porque já tinha o jantar combinado com a Catarina. Não a vejo há muitos anos e por isso nem estremeci com a sobreposição de agenda.

Meto por uma segunda circular que hoje circula, apesar da chuva. Seguiu-se a autoestrada para Cascais que continuou a fluidez de tráfego que eu já trazia, incrédula, da circular. Ao local combinado chego uns minutos antes da hora.

O bar da praia está quase deserto. A esplanada tem os guarda-sois fechados e atados, não vá o vento enrolar-se neles. De dentro, soa acolhedora a habitual música jazz.

Sento-me a uma mesa na esplanada a gozar a intempérie do jovem outono. Como é maravilhoso este tempo agreste!

O vento trata de me untar a cara com água salgada que traz roubada às ondas. Elas, loucas de raiva, saltam galgando a falésia à minha frente. Fico a olhá-las do meu posto de vigia, com uma tranquilidade que não trouxe de Lisboa.

Não sei se é do jazz que vem de dentro do bar, se das memórias deste lugar eternamente meu, se do encontro iminente com a minha amiga que não vejo desde há três filhos atrás, se de me ter baldado ao final da reunião de pais no momento em que a revolta contra os males previstos para o ano lectivo está ao rubro, porque sim, porque eles já sabem, ai os nossos meninos, não sei do que é, mas sinto-me feliz.

O vento está morno, veste as quenturas do verão que ainda lhe não morreu na memória. O sal continua a beijar-me o rosto e vai pintando o meu cabelo de branco tímido.

As ondas ainda não se acalmaram e a Catarina está a chegar.

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